domingo, agosto 20, 2006

Resposta ao Sr. Presidente.

-----Mensagem original-----
De: Rui Norte [mailto:ruinorte@sapo.pt]
Enviada: domingo, 20 de Agosto de 2006 21:42
Para: 'Gab. Utente'
Cc: 'geral@jf-estoi.pt'
Assunto: RE: Resposta a email enviado

Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Faro, José Apolinário.

Devo dizer-lhe que fiquei verdadeiramente feliz com o interesse que vos mereceu o assunto, com a vossa resposta à exposição e com a qualidade da argumentação.

De facto, para quem nasce aqui, e para quem por aqui anda interessado com o que cá vai acontecendo e o hábito fez-nos entorpecer o raciocino por falta de melhoramentos continuados nesta maravilhosa população do vosso concelho, estes enobrecimentos recentes causaram euforia.

Do desconfiar natural do bem-estar repentino induzido ao mesmo não habituado é legitimo suspeitar-se de má vontade, mas este não é o caso.

Sou um leigo em arquitectura. Os argumentos apresentados pelo Sr. Arquitecto Assessor Principal António Santos são fascinantes e tecnicamente por mim irrefutáveis.
Desse texto por vós anexado retirei alguns pontos:

"Relativamente à opção na utilização de colunas de iluminação, de imagem contemporânea para assegurar a iluminação dos Largos da Liberdade … a mesma foi ditada,
(1) pela ampla dimensão desta área de intervenção e a sua compatibilização com a linguagem das praças;
(2) pela necessidade de se introduzir peças esbeltas, que não interferissem visualmente quer com a leitura da Igreja e seu escadorio, tendo em contrapartida sido preservadas "in situ" os dois candeeiros que ladeiam a entrada principal da Igreja em situação de cota mais elevada e associadas á memória da imagem do seu alçado frontal;
(3) O cromatismo dessas colunas de iluminação – cinza claro, também foi seleccionado por forma a que a sua presença se diluísse na envolvente não se assumindo como peças marcantes do projecto de intervenção, onde os eixos direccionais são pontuados por espécimes arbóreas a plantar em caldeiras, implantadas por forma a não interferir com os principais canais visuais dos Largos".

Juntando-os ao facto, facilmente compreensível, de evitar o "pastiche", eis a justificação técnica incontestável pela escolha dos lampiões de diferente estilo dos que cá estavam.

Provavelmente daqui a algum tempo, talvez até pouco tempo, a malta que por aqui passe nem repare que no largo há distintos estilos de colunas de iluminação.
É essa a nossa natureza, uns esquecem mais depressa do que outros, cada cabeça a sua sentença, o habito faz o monge, mais vale o corrido que o lido, atrás de um dia vem o outro e agua mole em pedra dura tanto bate até que fura. E usaríamos muitos mais caracteres com lenga-lengas destas, não fosse chegada a altura de aqui colocar o cerne da questão dos lampiões novos novamente.

Não sei até que ponto um arquitecto responsável tem de cumprir directrizes do IPPAR ou lógicas comuns a trabalhos de requalificação de largos, se é que há directrizes do IPPAR ou linhas de actuação em trabalhos destes.
Repare, aqui, no Largo da Liberdade estavam implantadas colunas de iluminação de estilo diferente das novas. Certo que só iluminavam a "ilha" e que agora é necessário iluminar um maior espaço.
Essas colunas, as outras, já retiradas, talvez por habituação das gentes ou por semelhança de estilo com as que ladeiam a entrada principal da Igreja e com os lampiões que estão colocados nas paredes das casas do Largo, não me chocavam como me chocam as novas de estilo compatibilizado com o estilo do largo (segundo o argumento técnico).

As regras, como as leis, como o pensamento, como a mentalidade, como as gentes, como a arte, mudam. Os novos lampiões parecem estar para ficar.
Não são deste espaço como eram os outros que cá estavam e agora não estão. Estes, neste estilo moderno, tinham que ser ainda mais esbeltos ou totalmente transparentes para não serem notados, para que não interferissem visualmente (segundo o argumento técnico).
Mas não, elas, as colunas de iluminação, por serem diferentes das que ladeiam entrada principal da Igreja e dos lampiões que estão colocados nas paredes das casas do Largo interferem visualmente.
Se em termos arquitectónicos a colocação de lampiões de estilo antigo, como os que estavam na "ilha" e foram retirados, no Largo da Liberdade versão 2006 era inovação, quem sabe se não passaríamos a ter uma obra referenciada como exemplo pelos arquitectos de que a arquitectura é dinâmica e evolui?

O "pastiche", palavra que julgo estar relacionada com imitação, foi quase sempre pratica exigida aos privados e por estes felizmente cumprida que neste largo têm, aos poucos, reconstruído as suas casas de forma a torna-las confortáveis e condizentes com necessidades de cada um deles, assim salvaguardando e valorizando o património arquitectónico.
Essa imitação é compreensível facilmente por um não técnico de arquitectura, porque o que é de estilo antigo fica bem aqui. O que é moderno não fica bem aqui. Os candeeiros antigos ficavam bem na "ilha" que existia, os modernos não ficam bem no aprazível espaço que graças às vossas obras, agora, podemos desfrutar.

Sr. Presidente, como visitante do Largo da Liberdade o que sente de verdade exposto aos diferentes estilos dos lampiões públicos de Estoi?

Com os melhores cumprimentos e sinceros votos de sucesso,

Rui Norte.

Resposta a email enviado

-----Mensagem original-----
De: Gab. Utente [mailto:gu@cm-faro.pt]
Enviada: quinta-feira, 17 de Agosto de 2006 11:50
Para: ruinorte@sapo.pt
Cc: geral@jf-estoi.pt
Assunto: Resposta a email enviado
Importância: Alta
Exmo. Sr.
Rui Norte
Na sequência do email enviado em 29 de Julho de 2006, informo que o assunto mereceu a nossa melhor atenção.
Assim, procedemos ao envio a V. Exa. da informação anexa e relativa às questões por Vós apresentadas.
Aproveitamos a oportunidade para agradecer o envio de email e informar que estamos ao Vosso inteiro dispor para os esclarecimentos suplementares julgados convenientes.

Com os melhores cumprimentos,

O Presidente,

José Apolinário

GU/Nd

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ASSUNTO:
Exposição do Sr. Rui Norte relativa aos trabalhos de requalificação dos Largos da Liberdade, Humberto Delgado e Ossonoba em Estoi


Data:
20-08-2006

Exmo Senhor
Presidente da Câmara Municipal


Na sequência da exposição do Sr. Rui Norte, datada de 29 de Julho do corrente, referente às empreitadas de requalificação dos Largos da Liberdade, Humberto Delgado e Ossonoba em Estoi, cabe-me informar o seguinte:


Da malha urbana histórica de Estoi, ressaltam os espaços não edificados acima enunciados, resultantes de um crescimento orgânico da Aldeia e também directamente relacionados os primeiros, com a Igreja Paroquial de S. Martinho e o último, provavelmente com a nascente/cisterna, localizada num dos extremos do Largo Ossonoba, fronteira á esquina do edifício da farmácia.


Se bem que a frente edificada envolvente a essas praças, não tenha sofrido ao longo dos tempos adulterações profundas, a utilização desses largos por parte dos peões, foi remetida para pequenas “ilhas” calcetadas, dado ter sido dada a primazia á circulação automóvel e aos tapetes de betoninoso que as atravessavam e as afectavam visualmente, não permitindo o devido enquadramento do respectivo conjunto patrimonial. ( ver fotografias em anexo da situação dos Largos antes da intervenção).


Assim, e integrado no “Programa das Aldeias do Algarve” o qual, no concelho de Faro integrou a aldeia de Estoi, por decisão do Município, foram elaborados vários projectos com vista á requalificação de espaços urbanos e imóveis notáveis desta aldeia, dos quais destacamos nesta informação a dos Largos em apreço, que articulados com as empreitadas de recuperação do “Lavadouro Público” no estremo Poente do Largo Ossonoba e o da “Fonte Bebedouro de Animais” do Largo da Liberdade (actualmente emparedado), visam a efectiva requalificação desses Largos, passando pela ampliação das áreas pedonais, reorganização espacial e instalação de mobiliário urbano e arborização compatível, com o fim em vista, que estabeleceu como premissa, a dignificação dessas Praças e a criação de zonas de estar e lazer.


Estes projectos, ao intervirem em espaços públicos de acentuados desníveis altimétricos foram forçados a recorrer á construção de muros de suporte por forma a se garantir plataformas pedonais niveladas, numa solução em tudo semelhante á do adro envolvente á Igreja de S. Martinho, este reconstruído nos princípios do sec. XIX.


Se bem que a solução arquitectónica dos muros de suporte referidos, e também o do novo troço de escadaria do Largo da Liberdade, seja idêntico, aos pré existentes, o seu acabamento em pedra de calcário da região, é assumidamente diferente, pois não se pretendeu copiar e diluir a intervenção, na envolvente, mas sim data-la por forma destacar aquela, do edificado de efectivo valor patrimonial.


Será aqui de referir que as mais recentes intervenções em imóveis classificados promovidos pela “Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais” recorrem a materiais de texturas e qualidade diferentes, dos originais sempre que há a necessidade de se recompletar uma fachada, por forma a diferenciar o original, do adicionado em situação de “restauro” ( ex: Casa dos Bicos - Lisboa, Igreja do Colégio – Ponta Delgada ).


Relativamente à opção na utilização de colunas de iluminação, de imagem contemporânea para assegurar a iluminação dos Largos da Liberdade e Ossonoba, a mesma foi ditada, pela ampla dimensão desta área de intervenção e a sua compatibilização com a linguagem das praças, e também pela necessidade de se introduzir peças esbeltas, que não interferissem visualmente quer com a leitura da Igreja e seu escadorio, tendo em contrapartida sido preservadas “in situ” os dois candeeiros que ladeiam a entrada principal da Igreja em situação de cota mais elevada e associadas á memória da imagem do seu alçado frontal.
O cromatismo dessas colunas de iluminação – cinza claro, também foi seleccionado por forma a que a sua presença se diluísse na envolvente não se assumindo como peças marcantes do projecto de intervenção, onde os eixos direccionais são pontuados por espécimes arbóreas a plantar em caldeiras, implantadas por forma a não interferir com os principais canais visuais dos Largos.


Solução diferente foi a optada na escolha das colunas de iluminação do Largo Ossonoba, o qual pela sua pequena dimensão e uma envolvente edificada oitocentista muito próximo, convidou a uma solução de colunas de desenho revivalista, quase idênticas ao do candeeiro central pré existente. A implantação dessas colunas neste Largo, aliado a quase integral manutenção da actual arborização, teve em conta os “Mastros” e outras festas populares que aí têm lugar em datas cíclicas da Aldeia.


Por último, será ainda de referir que na actualidade, a generalidade das intervenções em áreas históricas classificadas que implicam mesmo o recurso á construção de novos edifícios, assumem a contemporanidade da sua linguagem arquitectónica, estabelecendo diálogos que consideramos importantes na datação das intervenções, evitando o recurso ao “pastiche” e á adulteração do próprio monumento. É o caso do Centro Intepretativo das Ruínas Romanas de Milreu, em Estoi, no qual um imóvel térreo de linguagem minimalista, acolhe os visitantes e o introduz num espaço 17 séculos mais antigo, ou o do conjunto do Teatro Municipal de Faro, fronteiro ao Solar da Quinta do Ourives e da Casa das Figuras, onde três imóveis de épocas e volumetrias bem diferentes, convivem equilibradamente, mercê de um projecto de espaços exteriores devidamente adaptado á especificidade da situação.


Julgamos ter explicado resumidamente a razão de ser das várias opções assumidas nestes projectos, estando no entanto o signatário disponível para directamente e detalhadamente, complementar esta informação, caso o munícipe assim o pretenda.






Faro, 3 de Agosto de 2006

O Arqto. Assessor Principal



António Centeno Serrano Santos